It was June, and I was bored, as any 17-year-old would be in a time when having a cell phone with internet wasn’t common yet. To pass the time, one of my favorite activities was riding my bike while listening to music on my MP3 player. My mom didn’t like that very much; she used to say, “You’re riding around with those headphones, blasting music—you might not hear a car or a truck one day, get run over, and die.” Yes, my mom has always been a bit dramatic. But today, being a mother myself, I understand her concerns, even though back then, I just thought she was annoying.
Obviously, I didn’t listen to those warnings and spent a lot of time cycling to the sound of Linkin Park, Foo Fighters, and Red Hot Chili Peppers. I also listened to some Brazilian rock while my mind created the most pleasurable scenarios to live in. I’ve always been the type of person who daydreams a lot, although adulthood has gradually dulled that habit. Still, I have occasional lapses. Looking back at my teenage years, I feel like I spent more time in my imaginary world than in reality.
Even so, sometimes, something in real life would catch my attention just long enough to snap me out of my addictive dreams. That’s what happened the day my gaze lingered on a girl walking in the opposite direction. I remember she looked back at me, and I got shy. At 17, I was quite confused about my sexuality and thought people were either straight or gay—simple as that. I was sure I was straight, but every now and then, a girl would catch my attention. These were feelings I ignored until they disappeared. That’s what I did with this girl too, but before that happened, we saw each other a few more times.
It was always on the street. Sometimes I’d go to the bakery, go for a ride, or just wander around the neighborhood, and she would be there. She looked at me in a way that was both mysterious and curious. I could barely hold her gaze, mostly out of fear. Until one day, I decided to speak.
“Hi,” I said when I noticed she was sitting on the sidewalk of a street I was passing by that day.
“Hey, how are you?” she replied.
“Are you new here? I’d never seen you before, but lately, I keep running into you.”
“No, I’ve lived here for a long time. We just happened to notice each other now.”
I responded with a reserved smile.
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After that first conversation, we started exchanging messages on MSN. I found out she liked a lot of the same things I did—music, movies, books. It felt like a match made in heaven. And the more we talked, the more I was sure I liked her—and the more she seemed to feel the same way.
Once, during a conversation, she found out I liked plants and invited me to her house to see some that her mother grew. I went, and I was enchanted. First, because her house was really beautiful, and second, because her mother had an incredible garden. We talked for about two hours, and even though her parents weren’t home, neither of us made a move to take things further. We exchanged long glances—those that carry the energy of desire back and forth. It was a great afternoon, one that left me certain we liked each other. And I planned to bring it up soon.
Even knowing that texting wasn’t the best way, the impatience of immaturity won. A few days after visiting her house to see the plants, I sent her a message telling her how I felt.
“You know, I think I’m into you…”
“Wow, Aiuna, I don’t even know what to say…”
“Just say what you—”
“Aiuna, you’re amazing, but I don’t feel ready to be with anyone right now.”
“I understand, it’s okay.”
“But we’ll still be friends, right? Please, let’s not drift apart. I really enjoy your company.”
“Of course, we’ll stay friends…” I lied.
I was really upset about that rejection because she had given me every possible sign that she wanted something with me. But the frustration only lasted a few days. That situation taught me that sometimes people show interest just because flirting is fun—nothing more. When you’re young, especially, it’s normal to play games, to pretend, to take a step back when the moment comes. But honestly, even when I was young, I was never like that. When I like someone, I say it. When I want something, I show it. And when I don’t, I try to make it clear.
On those bike rides, as I listened to my favorite songs, one of them said: “It’s a sin to stir up desire and then deny it.” I still believe that to this day.
Portuguese
Era junho e eu estava entediada, como qualquer adolescente de 17 anos se entendia, numa época em que ainda não era comum existirem celulares com internet. Para passar o tédio, uma das minhas atividades favoritas era pegar minha bicicleta e pedalar ouvindo música no meu mp3. Minha mãe não gostava muito que eu fizesse isso, ela dizia: ‘’Você fica pedalando com esses fones, ouvindo músicas alto, um dia pode não ouvir um carro, ou um caminhão, ser atropelada e morrer’’. Sim, minha mãe sempre foi uma pessoa exagerada. Mas, hoje, sendo mãe, entendo suas preocupações, embora naquela época só achava ela chata.
Obviamente eu não ouvia esses conselhos, e pedalava muito escutando Linkin Park, Foo Fighters e Red Hot Chili Peppers. Também ouvia alguns rocks nacionais, enquanto minha mente criava os cenários mais prazerosos de se viver. Eu sempre fui o tipo de pessoa que devaneia muito, embora a vida adulta tenha tolhido esse hábito com o passar dos anos, ainda tenho alguns lapsos desses momentos. Já na adolescência, olhando para trás tenho impressão que passava mais tempo no meu mundo imaginário do que na vida real.
Mesmo assim, às vezes acontecia algo na realidade, que se meus olhos vissem apenas por alguns segundos, seriam o suficientes para me acordar de meus sonhos viciantes. Foi o que aconteceu no dia que meu olhar se demorou num olhar de uma menina que caminhava no sentido oposto. Lembro que ela me olhou de volta, e eu fiquei tímida. Aos 17, eu era um tanto confusa sobre minha sexualidade, e pensava que as pessoas ou eram héteros ou gays, simples assim. Eu tinha certeza que era hetero, mas por mais que fosse raro, às vezes alguma menina me chamava atenção, eram sentimentos que eu ignorava até eles pararem de existir, com essa menina também foi assim, mas antes disso acontecer, nos vimos outras vezes.
Era sempre na rua, às vezes eu ia à padaria, pedalar ou simplesmente decidia andar pelas ruas do bairro, e essa garota estava por perto. Ela me olhava de uma forma misteriosa e ao mesmo tempo curiosa, pouquíssimas vezes eu conseguia sustentar aquele olhar, o motivo principal era medo. Até que um dia eu decidir falar.
‘’Oi’’ Disse quando percebi que ela estava sentada na calçada de uma rua que estava passando naquele dia.
‘’Oi, tudo bem?’’ Ela me respondeu
‘’Você é nova aqui? Eu nunca tinha te visto antes, mas ultimamente tenho visto sempre.’’
‘’Não, eu moro aqui faz tempo, só aconteceu da gente se vê agora..’’
Eu respondi com um sorriso contido.
Depois dessa primeira conversa, trocamos mensagens por MSN, descobri que ela gostava de muitas coisas que eu também gostava, como músicas, filmes e livros. Parecia ser a match made in heaven. E quanto mais conversávamos, mas eu tinha certeza que gostava dela, e mais ela demonstrava sentir o mesmo por mim.
Uma vez, numa conversa que tivemos, ela descobriu que eu gostava de plantas, e me chamou para ir a casa dela para ver algumas que a mãe dela cultiva. Eu fui, e fiquei encantada. Primeiro que a casa dela era realmente bonita, segundo porque a mãe dela tinha um jardim realmente incrível. Ficamos conversando por cerca de duas horas, e mesmo os pais dela não estando em casa, não houve nenhuma atitude minha ou dela para que as coisas passassem além daquilo. Trocamos longos olhares diversas vezes, daqueles que você sente a energia do desejo indo e voltando. Foi uma tarde legal, em que eu tive certeza que gostávamos uma da outra. E pretendia falar sobre isso o mais breve possível.
Mesmo sabendo que falar por mensagem não era a melhor opção, a impaciência da imaturidade foi mais forte, e poucos dias depois que fui na casa dela ver as plantas, mandei uma mensagem dizendo o que eu sentia.
‘’Sabe, eu acho que estou interessada em você…’’
‘’Nossa, Aiuna, eu nem sem o que dizer…’’
‘’Só diga o que você …’’
‘’Aiuna, você é incrível, mas eu não me sinto pronta pra me relacionar com ninguém agora.’’
‘’Eu entendo, tudo bem.’’
‘’Mas, nós seremos amigas ainda não é, por favor não vamos nos afastar. Realmente gosto da sua companhia.’’
‘’Claro, continuaremos amigas sim…’’ Eu menti.
Fiquei bem chateada com aquele fora, porque ela me dava todos os sinais possíveis de que queria alguma coisa comigo. Mas, a chateação durou poucos dias. Essa situação me fez entender, que às vezes as pessoas demonstram interesse, mas só porque é divertido flertar. Nada mais do que isso. Quando se é jovem, principalmente, é normal fazer jogos, fingir interesse, e dar um passo para trás quando o momento chegar. Mas, sinceramente, mesmo quando jovem, eu nunca fui assim. Quando eu gosto eu digo, quando eu quero eu demonstro, e quando eu não quero, procuro deixar isso claro. Naquelas pedaladas, em que eu ouvia minhas músicas favoritas, uma delas dizia: ‘’Pecado é provocar desejo e depois renunciar.’’ Acredito nisso até hoje.
