[EN]
The so-called "Centrão" is a ubiquitous term in Brazilian politics, often evoked with disdain and associated with physiological practices and a lack of ideology. But this would be a simplistic analysis of a complex and multifaceted phenomenon that, whether we like it or not, has shaped the functioning of our political system for decades.
Defining the Centrão with precision is a challenge. It is not a formal political party, but rather a heterogeneous grouping of parties with poorly defined agendas and ideologies, united mainly by pragmatism and the search for positions and influence in the Executive. This fluid and adaptive characteristic makes the Centrão an easy target for criticism, and it is often accused of prioritizing its own interests over a national project. But we also have to ask ourselves: Who, a priori, does not prioritize their own interests? The smallest minority is the individual, and what is more social than prioritizing the smallest minority, that is, ourselves? Questions.
Let's go back to the Centrão. To deny its relevance is to close one's eyes to the reality of Brazilian coalition presidentialism. In a fragmented system with multiple parties, the president needs to build a majority in Congress to govern, and the Centrão, with its significant bench and ability to articulate, becomes a key player in this process.
The accusations of cronyism leveled at the Centrão are not unfounded. The practice of exchanging political support for positions, parliamentary amendments and other benefits is, unfortunately, a reality in Brazilian politics, and the Centrão has historically stood out in this game. Should we hate the players or the game? Change the rules of the game or complain about the rules? Is it wrong for those who play with the rulebook under their arm without thinking about fair play?
Reducing the Centrão to cronyism is to ignore other important aspects. The search for space in the government can also be seen as a legitimate way to participate in power and influence public policies. In addition, the Centrão often acts as a guarantor of governability, ensuring the approval of important measures and avoiding political crises that could paralyze the country.
The relationship between the Centrão and Brazilian democracy is complex and ambiguous. On the one hand, the Centrão can be seen as an obstacle to democracy, by prioritizing quid pro quo over programmatic debate and the representation of civil society interests. On the other hand, the Centrão also plays an important role in the stability of the political system, avoiding institutional ruptures and ensuring governability in a fragmented political environment. Is it correct to say that it holds the rope in the tug of war so that it does not go too far to one side or the other? After all, without it and with only the two ideological extremes, we would be on one side of the scale for four years, and on the other side of the scale, and never finding a balance that would ensure political or even monetary stability.
In recent decades, the Centrão has undergone significant transformations. The professionalization of politics, increased transparency and greater access to information have made it difficult to maintain clientelist and physiological practices. Furthermore, the emergence of new political actors, social networks and the strengthening of organized civil society have pressured the Centrão to adopt a more programmatic and transparent stance.
Despite these changes, the Centrão continues to be a central player in Brazilian politics. Its capacity for articulation, its significant bench in Congress and its ability to negotiate with different political groups make it an indispensable partner – or an insurmountable obstacle – for any government.
The Centrão is a complex phenomenon that defies simplistic analyses. Reducing it to physiology is to ignore its importance in Brazilian political dynamics. Understanding its nuances and contradictions is essential to understanding how our political system works and to building a more qualified debate on the challenges of Brazilian democracy.
Instead of demonizing or idealizing the Centrão, we need to analyze it pragmatically and seek mechanisms that limit its negative practices and enhance its positive aspects, in favor of a more efficient, transparent and representative political system. Do you believe this is possible? Some do, but most do not.
[PT-BR]
O chamado "Centrão" é um termo onipresente na política brasileira, frequentemente evocado com desdém e associado a práticas fisiológicas e à falta de ideologia. Mas seria essa uma análise simplista de um fenômeno complexo e multifacetado que, gostemos ou não, molda o funcionamento do nosso sistema político há décadas.
Definir o Centrão com precisão é um desafio. Não se trata de um partido político formal, mas sim de um agrupamento heterogêneo de partidos com pautas e ideologias pouco definidas, unidos principalmente pelo pragmatismo e pela busca por cargos e influência no Executivo. Essa característica fluida e adaptativa torna o Centrão um alvo fácil de críticas, sendo frequentemente acusado de priorizar interesses próprios em detrimento de um projeto de país. Mas também temos que nos perguntar: Quem, a priori, não prioriza os interesses próprios? A menor minoria é o indivíduo, e o que mais social do que priorizar a menor minoria, ou seja, nós mesmos? Questionamentos.
Voltemos ao Centrão. Negar sua relevância é fechar os olhos para a realidade do presidencialismo de coalizão brasileiro. Em um sistema fragmentado com múltiplos partidos, o presidente precisa construir maioria no Congresso para governar, e o Centrão, com sua bancada expressiva e capacidade de articulação, torna-se um ator fundamental nesse processo.
As acusações de fisiologismo que recaem sobre o Centrão não são infundadas. A prática de trocar apoio político por cargos, emendas parlamentares e outros benefícios é, infelizmente, uma realidade na política brasileira, e o Centrão, historicamente, tem se destacado nesse jogo. Devemos odiar os jogadores ou o jogo? Mudar as regras do jogo ou reclamar das regras? Quem joga com o livro de regras embaixo do braço sem pensar no fair play, está errado?
Reduzir o Centrão ao fisiologismo é ignorar outros aspectos importantes. A busca por espaço no governo pode ser vista também como uma forma legítima de participar do poder e influenciar as políticas públicas. Além disso, o Centrão frequentemente atua como um fiador da governabilidade, garantindo a aprovação de medidas importantes e evitando crises políticas que poderiam paralisar o país.
A relação entre o Centrão e a democracia brasileira é complexa e ambígua. Por um lado, o Centrão pode ser visto como um obstáculo à democracia, ao priorizar o toma lá dá cá em detrimento do debate programático e da representação de interesses da sociedade civil. Por outro lado, o Centrão também cumpre um papel importante na estabilidade do sistema político, evitando rupturas institucionais e garantindo a governabilidade em um ambiente político fragmentado. Será que é correto dizermos que ele segura a corda do cabo de guerra para que não vá muito para um lado, nem para o outro? Afinal, sem ele e apenas com os dois extremos ideológicos, estaríamos um quadriênio em um lado da balança, e no outro do outro lado da balança, e nunca encontrando um equilíbrio para que se tenha uma estabilidade política, ou até mesmo monetária.
Nas últimas décadas, o Centrão passou por transformações significativas. A profissionalização da política, o aumento da transparência e o maior acesso à informação têm dificultado a manutenção de práticas clientelistas e fisiológicas. Além disso, o surgimento de novos atores políticos, as redes sociais e o fortalecimento da sociedade civil organizada têm pressionado o Centrão a adotar uma postura mais programática e transparente.
Apesar dessas mudanças, o Centrão continua sendo um ator central na política brasileira. Sua capacidade de articulação, sua bancada expressiva no Congresso e sua habilidade em negociar com diferentes grupos políticos o tornam um parceiro indispensável – ou um obstáculo intransponível – para qualquer governo.
O Centrão é um fenômeno complexo que desafia análises simplistas. Reduzi-lo ao fisiologismo é ignorar sua importância na dinâmica política brasileira. Entender suas nuances e contradições, é fundamental para compreender o funcionamento do nosso sistema político e para construir um debate mais qualificado sobre os desafios da democracia brasileira.
Em vez de demonizar ou idealizar o Centrão, precisamos analisá-lo com pragmatismo e buscar mecanismos que limitem suas práticas negativas e potencializem seus aspectos positivos, em prol de um sistema político mais eficiente, transparente e representativo. Você acredita que isso é possível? Alguns sim, a maioria não.
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