I can say with certainty that 2024 will be remembered as one of the hardest years of my life. It could win the award for the most difficult if I were sure of it. But I have the ability to forget things, and, in fact, I recently discovered that this is a mechanism of the brain. When you go through tough times, no matter how complicated they are, after a while, you can’t remember the pain anymore. You might also forget other details about those moments; in my case, I forget almost everything—except who caused me the pain.
Even someone who thinks they remember the pain is, in fact, recreating memories of the same event. Over time, this can even turn into a pathology, like trauma or depression. Thank God, I experience my moments of pain intensely, but once they’re over, I let them go completely. Without a doubt, my brain enjoys protecting me.
This introduction probably makes it clear that 2024 was a year where I had to deal with truly complicated situations that caused sad and uncomfortable feelings. But honestly, I’d rather not talk about them. As the year comes to an end, I want to cultivate as many positive and grateful feelings as possible because good things happened to me too. It was an intense year that taught me a lot, both through the good moments and the bad ones. So, considering the theme proposed by Hive Learners, I’ve decided to share a bizarre event—something I’ll definitely never forget.
Image created by Chat Gpt and edited on Canva.
Here’s the story: I have a college professor who is a bit peculiar. He’s young but dresses like someone much older. I have to admit he dresses very well, but in a way that’s quite different from other professors. For instance, he wears suspenders and personalized cufflinks, often looking like someone from the 19th century. He’s good-looking and seeks to enhance his appearance with his clothing and way of speaking. He’s also somewhat ironic. And on top of that, he reminds me of the actor Elijah Wood.
This professor has traveled to some countries in Europe, but the country where he spent the most time was Germany. One day, while telling us about what it was like to live in Germany, he shared with the class that he is considered a Black person there. He told us a few stories to prove his point. For instance, he mentioned a time he was at a supermarket and saw a mother with her baby in a stroller. He decided to interact with the child, saying “hi” and smiling, but the baby started crying. He said that at that moment, the child’s mother told him, “I’m sorry, it’s just that he always cries when he sees a Black person.” As a biracial person myself, I could only think: “You’ve got to be kidding me!” (To be honest, there might have been some stronger language in my reaction, but I decided to leave it out of this text.)
Besides that story, he told us another one. This time, it was about an elderly German couple commenting on his appearance. According to him, the couple was talking about his hair and his skin color, unaware that he could speak and understand German. So, my professor just stood there listening, then eventually laughed. He said the couple was extremely embarrassed and, after apologizing, quickly walked away.
While he was telling these stories, the entire class fell silent, and I could see that many of us were feeling deeply uncomfortable for him. Because my professor is not Black! He’s not even biracial. Remember when I said he looked like Elijah Wood? For those who don’t know, here’s a photo of the actor:
Not even a little Black, right?
I understand that in Germany and other countries, people may perceive white Brazilians as Latinos. But when my professor said he knew what Black people go through because he experienced prejudice for being considered Black in Germany, it was impossible not to find the situation utterly bizarre! A privileged white man talking about how he experienced racism—it was so absurd that neither I nor my classmates will ever forget it.
To wrap up his series of stories about the racism he endured, he shared a moment when a quilombola leader said to him, “You are my brother because you know what Black people suffer; you’ve felt it in your skin.” I looked around at my classmates at that moment and saw a room full of disbelief. I’ve definitely never had such an out-of-touch professor.
Portuguese
Posso dizer com certeza que 2024 ficará marcado como um dos anos mais difíceis da minha vida. Ele poderia ganhar o prêmio de mais difícil se eu tivesse certeza. Mas, tenho a capacidade de esquecer das coisas e, na verdade, descobri recentemente que isso é um mecanismo do cérebro. Quando você passa por momentos difíceis, por mais complicado que seja, depois de um tempo você não consegue mais lembrar da dor, e também pode esquecer outros detalhes sobre esse momento, no meu caso, eu esqueço de quase tudo, menos de quem me causou a dor.
Mesmo uma pessoa que acha que se lembra da dor, na verdade ela recria memórias do mesmo acontecimento, de certa forma, depois de um tempo, isso pode se transformar numa patologia, como um trauma ou uma depressão. Graças a Deus, eu vivo intensamente meus processos de dor, mas depois que passa, me desapego totalmente. Sem dúvida, meu cérebro gosta de me proteger.
Toda essa introdução já deve ter deixado claro que 2024 foi um ano em que eu tive que lidar com situações realmente complicadas, que causaram sentimentos tristes e desconfortáveis. Mas, sinceramente, eu não gostaria de falar delas. Nesse finalzinho de ano quero cultivar o máximo sentimentos bons e de gratidão, pois também me aconteceram coisas muito boas, foi um ano intenso, em que me fez aprender muito tanto com momentos bons quanto com momentos ruins. Por isso, levando em conta o tema proposto pela Hive Learners, decidi escolher um acontecimento bizarro para compartilhar, algo que definitivamente nunca esquecerei.
A história é a seguinte: tenho um professor da faculdade que ele é um tanto estranho. Ele é jovem, mas se veste como alguém já mais velho. Se veste muito bem devo admitir, mas de forma muito diferente dos outros professores. Por exemplo, ele usa suspensório e abotoaduras personalizadas, muitas vezes parecendo algo do século 19. Ele tem uma boa aparência, e busca ornamentá-la com suas vestimentas e forma de falar, também é um tanto irônico. E além disso me faz lembrar o ator Elijah Wood.
Esse professor já viajou para alguns países na europa, mas o país onde ele passou mais tempo foi na Alemanha. Um dia, contando a história de como era viver na Alemanha, ele compartilhou com a turma que lá ele é considerado uma pessoa negra. E nos contou algumas histórias como que para provar sua afirmação. Falou de uma vez que estava no supermercado e viu uma mãe com seu bebê num carrinho, ele decidiu interagir com a criança, como dar um ‘’Oi’’ e sorrir, mas a criança começou a chorar. Ele disse que nessa hora a mãe da criança disse: ‘’Me desculpe, é que ele sempre chora quando ver um negro’’. Eu, como uma pessoa parda, só consegui pensar: ‘’Você está brincando comigo?!’’ (pra falar a verdade, pode ser que tivesse algum palavrão na reação do meu pensamento, mas decidi não incluí-lo nesse texto)
Além dessa história, ele nos contou outra. Como quando tinha um casal de alemães idosos falando da aparência que ele tinha. Segundo meu professor, o casal falava do seu cabelo e da sua cor, eles não faziam ideia de que meu professor falava e entendia alemão, então meu professor ficou lá ouvindo tudo e depois deu uma risada. Disse, que os alemães ficaram muito envergonhados e depois de pedirem desculpas, saíram de perto.
Enquanto ele contava essas histórias, a sala ficou toda em silêncio e eu pude ver que várias pessoas além de mim estávamos sentindo muita vergonha por ele. Porque meu professor não é preto! Ele nem ao menos é pardo. Lembram quando eu disse que ele parecia o Elijah Wood, então, pra quem não conhece, tá aqui a foto do ator:
Nenhum pouco negro, certo?
Eu entendo que tanto na Alemanha quanto em outros países, as pessoas vejam brasileiros brancos como latinos. Mas, no momento que meu professor falou que ele sabia o que as pessoas pretas passavam por que sofreu preconceito por ser considerado preto na Alemanha, não teve como não achar essa situação completamente bizarra! Ele como um homem branco, privilegiado, contando histórias de como ele sofreu racismo, foi algo tão insano, que sem dúvida, nem eu, nem minha turma, jamais esqueceremos disso.
Para finalizar os vários episódios que ele contou sobre o racismo que sofreu, ele disse que uma líder quilombola falou para ele a seguinte frase: ‘’Você é meu irmão, pois você sabe os que os pretos sofrem, você sentiu na pele.’’ Olhei para a turma nesse momento, e vi uma sala incrédula. Definitivamente nunca tive um professor tão sem noção.