I woke up in a hallway of an old roadside hotel. Drinking has been my thing for a long time, so I wasn't surprised to find myself in a strange place, but something made me uncomfortable in this place, maybe the pizza boxes with leftovers inside, maybe the soda bottles, maybe the state of abandoned. Who knows? All I know is that I got up, and tried to go to where I thought the exit was. But that's not what I found. In their place, just more and more locked doors with no sign of an end to the hallway.
After about two hours of walking I simply gave up, and tried to knock on the locked doors, without being responded to. Then I kicked a door hard, tearing it to pieces, only to find yet another endless hallway. I broke another, and more corridors, and another, and another, and another. There were just endless corridors, full of doors, and regardless of which door I opened, it would lead to an endless corridor, even if it violated the laws of physics.
At that moment I panicked, vomited, screamed and cried. My bones were aching from the chills, and my vision was blurred from it. I calmed down and sat in a corner of the wooden floor, trying unsuccessfully to understand what was happening, as the smell of cold pizza and old soda filled my nostrils.
I don't know how long I spent sitting there, lying there, napping, crying and desperately wishing I could go home. I even tried using my cell phone, but there was absolutely no signal, so the only thing it was good for was checking the time and listening to music, which preserved my sanity a little before the battery ran out. After a few days, I gave in and started eating the old pizzas and drinking the flat soda, which tasted like slightly warmed old syrup, and started breaking down some random doors to use the hallways as bathrooms. I also started walking in a straight line, following the original corridor, not because I had any hope of finding the exit, but because I could no longer stand still.
A day, two, three, maybe even a month of walking, I don't know for sure, and I already know that there's no way this is something natural. I remembered my mistakes in life, my successes, I cried, screamed, laughed, and, in the end, I know that I deserve to be here. Maybe if I hadn't drunk so much, maybe if I hadn't gotten involved with the wrong company, maybe if I had taken a path like my parents told me to take, I wouldn't have lost myself, metaphorically, and maybe I wouldn't have lost myself physically either.
Am I alive? Am I dead? Is this hell? Or maybe purgatory? I do not know anymore.
It's been eight hundred times since I slept. I don't know if you mean it's been eight hundred days, since there's no clock, day or night here, and the only thing I have left to pass the time is to walk and eat leftovers. Sometimes I find leftover sweet pizza, which is good, and sodas with exotic flavors, but everything tastes similar, soda that tastes like old syrup and pizza that tastes like rubber. I walk a few thousand steps every time I wake up, and try to do some intellectual work on the walls by scraping phrases into the paint with bottle caps. Maybe this will help some other lost being, right?
Anyway, I'm tired. This must be the three hundredth time I've rewritten this text. If you're reading this, I'm sorry, but your only option is to move on forever...
Acordei em um corredor de um velho hotel de beira de estrada. A bebedeira já é de meu feitio há tempos, então não me surpreendi ao me ver em um local estranho, porém alguma coisa me deixou desconfortável nesse lugar, talvez as caixas de pizza com restos dentro, talvez as garrafas de refrigerante, talvez o estado de abandonada. Quem sabe? Tudo o que eu sei é que eu me levantei, e tratei de ir até onde eu achei ser a saída. Porém não foi isso que eu encontrei. Em seu lugar, apenas mais e mais portas trancadas sem nenhum sinal de um fim para o corredor.
Depois de umas duas horas de caminhada eu simplesmente desisti, e tentei bater nas portas trancadas, sem ser correspondido. Então chutei uma porta com força, fazendo-a em pedaços, apenas para encontrar mais um corredor sem fim. Quebrei outra, e mais corredores, e outra, e mais outra, e mais outra. Haviam apenas corredores sem fim, repletos de portas, e, independente de qual porta eu abrisse, daria para um corredor sem fim, mesmo que isso violasse as leis da física.
Nesse momento entrei em pânico, vomitei, gritei e chorei. Meus ossos estavam doendo por causa dos calafrios, e minha visão estava turva com isso. Eu me acalmei e me sentei em um canto do piso de madeira, tentando, sem sucesso, entender o que estava acontecendo, enquanto o cheiro de pizza fria e refrigerante velho impregnava em minhas narinas.
Eu não sei quanto tempo passei lá sentado, deitado, cochilando, chorando e desejando desesperadamente voltar para casa. Até tentei usar meu celular, mas não havia sinal de absolutamente nada, então a única coisa para que servia era ver as horas e ouvir música, o que preservou um pouco a minha sanidade antes da bateria acabar. Depois de alguns dias, cedi e passei a comer as pizzas velhas e beber o refrigerante sem gás, que tinha um sabor semelhante a um xarope velho levemente aquecido, e comecei a arrombar algumas portas aleatórias para usar os corredores como banheiro. Também comecei a andar em linha reta, seguindo o corredor original, não por ter alguma esperança de encontrar a saída, mas porque já não aguentava mais ficar parado.
Um dia, dois, três, talvez até mesmo um mês de caminhada, não sei ao certo, e já sei que não tem como isso ser algo natural. Me lembrei de meus erros em vida, de meus acertos, chorei, gritei, ri, e, no fim das contas, sei que mereço estar aqui. Talvez se eu não tivesse bebido tanto, talvez se eu não tivesse me envolvido com companhias erradas, talvez se eu tivesse tomado um rumo como meus pais me mandaram tomar, eu não teria me perdido, metaforicamente, e talvez não tivesse me perdido fisicamente também.
Será que estou vivo? Será que estou morto? Será que este é o inferno? Ou talvez o purgatório? Não sei mais.
Fazem oitocentas vezes que dormi. Não sei se quer dizer que fazem oitocentos dias, já que não tem relógio, dia ou noite aqui, e a única coisa que me resta para passar o tempo é caminhar e comer restos. Às vezes encontro restos de pizza doce, o que é bom, e refrigerantes de sabores exóticos, mas tudo fica com o gosto parecido, refrigerante com gosto de xarope velho e pizza com gosto de borracha. Eu caminho alguns milhares de passos toda vez que acordo, e tento fazer algum trabalho intelectual nas paredes raspando frases na tinta com tampas de garrafa. Talvez isso ajude algum outro ser perdido, não é mesmo?
De qualquer forma, estou cansado. Deve ser a tricentésima vez que reescrevo esse texto. Se estiver lendo isso, sinto muito, mas sua única opção é seguir em frente eternamente…