December 29, 2024
I woke up in a bad mood. In the sink, a pile of dishes I couldn’t wash the day before because I’d been out all day. On the floor, dog hair had formed a traveling carpet, drifting from room to room depending on the wind blowing through the doors and windows. Starting in the living room, then moving to my bedroom, the island of hair usually ended up in the kitchen.
I felt tense and anxious about the year ahead. 2024 had been like riding a roller coaster, with external and internal events pulling me up and down. Often, the descent came so quickly I thought I might die. At other times, there seemed to be an apparent stability, only for another sudden drop to catch me by surprise. And 2025—what awaits me? I wondered as I washed the dishes.
As I washed, Running With The Wolves by Aurora kept playing on repeat in my head. I thought about opening Spotify and playing the song, but I wanted silence, even though my mind wouldn’t leave me alone. Shortly after I finished the dishes, the doorbell rang. I went to the front gate and saw it was him.
"Hi, I thought I’d drop by," he said.
''Hi, come in," I replied.
"What are you guys having for lunch?" he asked.
"Pasta with chicken and salad."
"Can I stay?"
"Of course," I said as my ex-husband came inside.
He played with our daughter while I put the pasta water to boil and tidied up the house. I realized my struggle against the tension that had gripped me since getting out of bed wasn’t over. Still, I tried to keep busy with house chores to avoid succumbing to the feeling. I felt like a mime. Yes… a mime, because mimes must believe what they’re doing is real. There’s some kind of power in nothingness, and the mime knows this, using it to project their truth. But me—while making the pasta sauce—I was actually doing something, so I just needed to focus on that. Why is it so hard?
Image created by Chat GPT and edited on Canva
I finished lunch relatively quickly, and the three of us ate together.
"This is really good… And the salad is amazing too," he said.
"Thanks." I replied.
Our child had her mouth full, seemingly lost in thought. Meanwhile, I wondered if I’d digest the food quickly, as I wanted to lie down. Then I remembered I’m already 31, noticing how slow my metabolism has become. I’ve never been exactly afraid of aging, but observing the changes in my body makes me reflect on how time has passed.
After lunch, he cleared the table, but I noticed the counter where he made the juice was a mess. That annoyed me. I remembered all the lost lids, the clothes left everywhere, the consistent ritual of messiness, our arguments, his unstable temper, my broken heart… But I didn’t say anything. I just exhaled deeply as if pushing all the air out of my lungs, then decided to take a shower. Because if I can’t calm down with a shower, nothing will.
After the shower, I decided to lie down.
"Can I lie down too, to watch something?" he asked.
"I don’t know…"
"Let’s watch Gold Fever."
"That’s so random…" That made me laugh.
"Yeah, I’m watching the first season; there are 14, can you believe it?"
"No way, that’s a ton of seasons."
"Yeah… Shall we watch it?"
"Sure."
I watched Gold Fever for about 30 minutes before falling asleep. I opened my eyes once and saw him next to me, still watching. I closed my eyes again and drifted back to sleep. I felt strange but safe, snug as a bug in a rug. I slept for a little over an hour and didn’t dream of anything at all. I love sleeping like that—it feels like you die and are reborn.
When I got up, I felt lighter. The sleep had really helped. But still, something inside me wanted to stir me up, make me tense, and pull me into a frenzy of emotions. I sat down in front of the laptop, thinking that a woman needs to write to clear her mind, and that’s one of the few truths I know. So I wrote.
Portuguese
29 de dezembro de 2024, acordei mal humorada. Na pia, uma pilha de louça que não consegui lavar porque no dia anterior estive ausente durante todo o dia. No chão, os pêlos da cachorra criaram um tapete ambulante, que dependendo da direção do vento que entra pelas portas e janelas, vão viajando por cada cômodo; começando pela sala, depois pelo meu quarto, normalmente a ilha de pêlos termina na cozinha.
Me sinto tensa e ansiosa com o ano que está por vir. 2024 foi como andar numa montanha russa em que acontecimento externos e internos me moviam para cima e para baixo, muitas vezes a descida era muito rápida e pensei que fosse morrer, noutras acreditava numa estabilidade aparente quando outra descida surpresa me esperava, e 2025, o que me aguarda? Pensei enquanto lavava a louça.
Enquanto lavava, Running With The Wolves de Aurora cantava sem parar em minha cabeça, pensei em simplesmente abrir o Spotify e dar play na música. Mas eu queria silêncio, embora minha cabeça não me deixasse em paz. Pouco tempo depois que terminei a louça, a campainha tocou, fui até o portão de entrada e descobri que era ele.
‘’Oi, resolvi dá uma passada’’
‘’Oi, entra ai.’’ Eu respondi.
‘’O que vocês vão almoçar?’’ Ele perguntou.
‘’Macarrão com frango e salada’’
‘’Posso ficar?’’
‘’Claro.’’ Eu disse enquanto meu ex esposo entrava.
Ele brinca com nossa filha enquanto coloco a água do macarrão para ferver e organizo algumas coisas na casa. Percebi que minha luta contra a tensão, que me abraçou assim que me levantei da cama, não acabou. Mas, tento me manter ocupada com os afazeres de casa pra não me deixar levar por aquela sensação, e me sinto uma mímica. É… uma mímica, porque os mímicos precisam acreditar que o que eles estão fazendo é real. Existe algum tipo de força no nada, e o mímico sabe disso, e ele usa essa sabedoria para imprimir sua verdade. Só que eu, enquanto faço o molho do macarrão, estou realmente fazendo alguma coisa, então eu só preciso me concentrar nisso… Porque é tão difícil?
Fiz o almoço relativamente rápido, e almoçamos nós três juntos.
‘’Nossa, ficou muito bom… A salada também tá incrível’’ Ele diz.
‘’Obrigada’’ Eu digo.
A criança, naquele momento, está com a boca cheia, aparentemente pensando em alguma coisa. E eu pensava se conseguiria fazer a digestão logo, pois queria me deitar. Nisso, me lembrei que já estou com 31 anos, e o quanto meu metabolismo se tornou lento. Nunca tive exatamente medo de envelhecer, mas começar a notar as transformações do meu corpo, faz com que eu reflita sobre como o tempo passou.
Depois do almoço, ele tirou a mesa, e eu percebi que o local onde ele fez o suco ficou todo sujo. Isso me irritou. Lembrei de todas as tampas perdidas, as roupas jogadas, a bagunça que ele sempre fez com consistência como um ritual, das nossas discussões, do seu temperamento instável, do coração partido... Mas, eu não disse nada. Apenas respirei como se expulsasse de fato todo o ar dos meus pulmões, e decidi ir tomar um banho. Porque se eu não me acalmo com um banho, não me acalmo com mais nada.
Depois do banho, decidi ir me deitar.
‘’Posso deitar também pra assistir um pouco.’’ Ele diz.
‘’Não sei…’’
‘’Vamos ver Febre do Ouro’’
‘’Que aleatório…’’ Isso me faz rir.
‘’É, estou vendo a primeira tempora, são 14, acredita?’’
‘’Não, é temporada pra caramba.’’
‘’É…Vamos ver?
‘’Pode ser.’’
Assisti Febre do Ouro por 30 minutos até que pegasse no sono. Abri os olhos uma vez, e ele estava ao meu lado, ainda assistindo. Fechei os olhos e voltei a dormir, me senti estranha, mas segura. Dormi pouco mais de 1h e não sonhei com absolutamente nada. Como eu amo dormir assim, parece que a gente morre e volta a nascer.
Quando me levantei, me sentia mais leve, o sono realmente ajudou. Mas ainda, tinha algo dentro de mim que queria me agitar, me deixar tensa, me levar para sentimentos frenéticos. Sentei de frente ao laptop pensando que uma mulher precisava escrever pra clarear a mente, e essa é uma das poucas verdade que eu sei. E escrevi.