I'm not sure when the end of the year became a melancholic period for me, but I have a suspicion.
When I was 13, my parents decided to bring a new child home, and I, who had always wanted a sibling, was no longer sure at that moment. I had already adjusted to growing up alone; to me, it didn't make sense, but it happened.
My brother arrived just a few days later, as my cousin, who lived with me and my parents, decided to move in with her boyfriend. She was the closest thing I had to a sister, even though she seemed more like an aunt, as she was my mother's adopted sister. At that time, I was already showing signs that I would be a complicated teenager, so I didn't care much that she suddenly left home to live with someone. But I cared a little when only a few weeks later, she passed away.
It was strange like that. Augusto was born one day, and my mother went to pick him up the next. I only found out a few months later by overhearing my mother talking to relatives that she had been in negotiations with his biological mother since the beginning of the pregnancy. I had to eavesdrop to find out... My mother was never very open with me. It was only two weeks after he arrived that my cousin left, as if he were a bargaining chip... In those days, I realized how painful and difficult it can be to understand the game of God.
It was November, by the way, I think I forgot to mention. My birthday is at the beginning of November. That year, 2006, I turned 13. Ten days later came Augusto, and two weeks later my cousin left. I think that's the kind of event that traumatizes, right? It must be. Maybe it started right there; my melancholic year-end.
Image generated by Bing AI.
As if to cosmically decree this fact, my daughter was born in December seven years ago. It was a smooth childbirth, but definitely not what I expected. I spent my entire pregnancy believing I would have a normal childbirth, but the child was too big, and they had to cut me. I had never felt so exposed and vulnerable in my entire life. Everything turned out fine, but it was intense. I feel like I died there and was reborn as someone else; another woman whom I am still learning to know, to discover who she is; the good news is that I feel I am getting close.
Today I am exhausted, spent the day preparing for my little one's birthday, which will happen in the next few days. I spent more than I could afford, but preparing something for her is one of the few things that still make me happy in December. Although the background is still a bit gray, she is the beacon that directs me to where I feel safe and comfortable.
It's hard to erase memory because, no matter how much time passes, and we forget some important things, memory leaves its mark. Like a tattoo on your body that you forget you have; and every now and then, you find yourself surprised: 'Oh, right, I have this tattoo.' And you wonder what you felt when you got it, what you were thinking when this mark was made, the intensity of the pain...
This year, I didn't remember the anniversary of my cousin's death; it wasn't the first time it happened. I found out that not remembering doesn't mean not feeling.
Portuguese
Melancolia de fim de ano.
Não tenho certeza sobre quando o fim do ano se tornou um período melancólico pra mim, mas tenho uma desconfiança.
Quando eu tinha 13 anos, meus pais decidiram trazer uma nova criança para casa, e eu que sempre quis ter um irmão, naquele momento, já não tinha certeza. Já tinha me adaptado para crescer sozinha, pra mim aquilo não fazia sentido, mas aconteceu.
Meu irmão chegou alguns dias depois apenas, da minha prima, que morava comigo e meus pais, decidir ir morar com o namorado. O mais próximo que eu tinha de uma irmã, com certeza era ela, embora ela se parecesse mais com uma tia, já que era irmã de criação da minha mãe. Naquela época, eu já dava indícios que seria uma adolescente complicada, não me importei muito por ela ter saído de casa de repente para morar com alguém. Mas me importei um pouco quando apenas algumas semanas depois, ela morreu.
Foi estranho assim. Augusto nasceu num dia e minha mãe foi buscá-lo no outro. Só vim saber alguns meses depois vendo minha mãe conversar com familiares, que ela já estava em negociação com a mãe biológica dele desde o início da gravidez. Foi preciso ouvir conversas alheias para que eu soubesse… Minha mãe nunca foi de falar abertamente comigo. Foram só duas semanas depois que ele chegou que minha prima se foi, como se ele fosse uma moeda de troca… Naqueles dias eu percebi o quanto o jogo de Deus pode ser doloroso e difícil de entender.
Era novembro, aliás, acho que não comentei. Meu aniversário é no início de novembro, naquele ano, 2006, eu fiz 13 anos. Dez dias depois veio Augusto, duas semanas depois minha prima se foi. Eu acho que isso é o tipo de acontecimento que traumatiza né? Deve ser. Talvez tenha começado ali, justamente ali; meus fins de ano melancólicos.
Como que para decretar cosmicamente esse fato, minha filha nasceu em dezembro há 7 anos atrás. Foi um parto tranquilo, mas definitivamente não foi o que eu esperava. Passei minha gravidez inteira acreditando que teria um parto normal, mas a criança era grande demais, e eles tiveram que me cortar. Nunca me senti tão exposta e vulnerável em toda minha vida. Deu tudo certo, mas foi forte, eu sinto que morri ali, e renasci outra pessoa; outra mulher da qual ainda estou aprendendo a conhecer, a descobrir quem ela é; a boa notícia é que sinto que estou perto.
Hoje estou exausta, passei o dia resolvendo preparativos do aniversário da minha pequena, que vai acontecer nos próximos dias. Gastei mais do que podia, mas preparar algo para ela é uma das poucas coisas que ainda me fazem feliz em dezembro. Embora o plano de fundo ainda seja um pouco cinza, ela é o farol que me direciona para onde me sinto segura e confortável.
É difícil arrancar a memória, porque por mais que o tempo passe, e nos esqueçamos de algumas coisas importantes, a memória deixa sua marca. Como uma tatuagem que você tem no corpo, mas esquece que tem; e vez o outra você se pega surpreso: ‘’Ah, é mesmo, eu tenho essa tatoo.’’ E você se pergunta o que sentia quando a fez, no que estava pensando quando essa marca foi feita, na intensidade da dor…
Esse ano não lembrei do aniversário de morte da minha prima, não foi a primeira vez que aconteceu. Descobri que não lembrar não significa não sentir.