Diary of a neurodivergent - The realization of the lack of logic that governs existence // Diário de um neurodivergente - A constatação da falta de lógica que rege a existência

in #hive-1745787 days ago

Waking up early for purposes that are not pleasurable but rather obligations of moderate seriousness. Getting up, combing my hair (which gets tangled and is a lot more work), shaving my tongue, brushing my teeth, taking my psychiatric medication, taking my blood pressure medication, taking the stimulant that boosts the psychiatric medication, taking a magnesium dimalate and a good drink of water. Waking up my daughter, starting the bike and going with her to sort out medical issues. Taking an X-ray of her skull (it's so strange to always say "skull", it gives the impression of viscerality, of thanatos, of a bad omen, but in this case it was no big deal, just to check for probable acute sinusitis), waiting at the hospital until the nurse who does the X-ray arrived, remembering the experience of standing there to take an X-ray and telling my daughter that when I was a child and had to go through this, I remember that room being all black and full of X-ray plates of the bones of hundreds of people all over the wall, giving the room a funereal, gothic and bizarre air. The male nurse told me that the health authorities or whatever had asked them to remove everything from the wall because there was lead on the plates and it would be some kind of contamination or something.

After showing the X-ray to the doctor on the other side of the road, at the health center, where we waited for a long time, long enough for me to see a large number of family members weeping without consolation over the death of their daughter, a paramedic nurse, who, along with a doctor, an ambulance driver and a sick passenger, lost her life in a cruelly tragic accident that almost ninety-nine percent of the time could have been avoided if it hadn't been for the extremely (terribly) precarious state of the road that connects my town to the neighboring town. This road is very dangerous, full of potholes and with a huge amount of truck traffic. It seems that the ambulance was traveling at high speed (that's the role of emergency personnel after all, to make things happen in record time, to give the patient a happy outcome), there was rain, and an accident occurred. I don't know the details and frankly I'd rather not. But seeing all those family members crying their eyes out caused me a lot of emotional discomfort, to the point that it completely unbalanced what was already unhealthy in me.

Image created on Midjourney

It's kind of impossible not to consider once again that things simply don't make sense, and it's not even with the tone of an angry teenager who doesn't see safety in a god who doesn't protect him, but rather that of a quitting, already ineffectual soldier who once again laments in a sorrowful and bitter face the realization of the total inoperability of any logic in these ridiculous mechanics of reality. A beautiful young woman "with her life ahead of her", as the older ones would say, who gave all her last years in a completely selfless effort to save people's lives, along with all the others involved, butchered between the wreckage, to no purpose. It's always an exercise in atheism, and at the same time it's always uncomfortable to observe how people who have no other grounds to cling to end up finding meaning in these situations, such as saying that we don't understand God's purposes (obviously not, it's not possible to understand the purpose of a fantasy, of a mythology, except for the meaning that the human creator himself gives to this creation, paradoxically), or even saying that now she's in a better, more peaceful place and has done everything she needed to do here... It's indignant, at least to me.

In the end, my daughter is fine, and hedonistically speaking that's what matters most to me, but my day was ruined by empathy and compassion, by observing other people's pain and by realizing that there is no logic once again. For a neurodivergent like me, it's very difficult to get out of the black hole once you've fallen in. Along with the exhausting struggle of weaning myself off cannabis for a month (another drama for another article I'll write soon), my day was disrupted and uncomfortable, it took hours and hours for things to fall into place. I came home from that day with absurd stress and a feeling of mental exhaustion that bordered on the inability to talk to my wife; I even needed 5mg of diazepam to ease this hell. All this made me think a lot, not only about the things I've shared here, but also about my own difficulty in maneuvering existence in the face of adverse and uncomfortable situations, or rather really challenging situations. Anyway, it's no big deal, but I just wanted to share some of the feelings that permeated my day today.

Thômas Blum

Português

Acordar cedo com propósitos não prazerosos mas sim obrigações de seriedade moderada. Levantar, pentear o cabelo (que comprido embaraça e dá muito mais trabalho), raspar a língua, escovar os dentes, tomar a medicação psiquiátrica, tomar a medicação para a pressão, tomar o estimulante que da um reforço na medicação psiquiátrica, tomar um magnésio dimalato e um bom gole de água. Acordar a minha filha, ligar a moto e ir com ela resolver questões médicas. Tirar um raio X do seu crânio (é tão estranho sempre falar "crânio", da uma impressão de visceralidade, de thanatos, de mal agouro, mas no caso não era nada demais, apenas para checar uma provável sinusite aguda), esperar no hospital até o enfermeiro que faz o Raio X chegar, relembrar a experiência de estar lá em postura ereta para tirar um raio x e contar pra minha filha que quando eu era criança e precisava passar por isso, lembro daquela sala ser toda preta e cheia de placas de raio-x dos ossos de centenas de pessoas por toda a parede, dando um ar ao mesmo tempo fúnebre, gótico e bizarro ao ambiente. O rapaz enfermeiro me contou que a vigilância sanitária ou sei lá o que pediu para eles tirarem tudo da parede porque havia chumbo nas placas e isso seria um tipo de contaminação ou coisa do gênero.

Depois mostrar o raio X para o doutor no outro lado da rua, no Posto de Saúde, onde esperamos por um longo tempo, tempo suficiente para eu ver uma grande quantidade de familiares chorando sem consolo pela morte de sua filha, uma enfermeira paramédica socorrista, que junto com um médico, um motorista de ambulância e um passageiro doente, perdeu a vida de forma cruelmente trágica em um acidente que quase com noventa e nove por cento de certeza poderia ser evitado se não fosse pelo estado extremamente (terrivelmente) precário da estrada que liga minha cidade à cidade vizinha. Essa estrada é muito perigosa, repleta de buracos e com um tráfego imenso de caminhões. Ao que tudo indica a ambulância estava indo em alta velocidade (esse é o papel do pessoal da emergência afinal, fazer as coisas acontecerem em tempo recorde, para dar um desfecho feliz ao paciente), havia chuva, e ocorreu um acidente. Não sei os detalhes e sinceramente prefiro nem saber. Mas ver aquele monte de familiares chorando desconsolados me causou muito desconforto emocional, há ponto de que desequilibrou completamente o que já não estava saudável em mim.

Imagem criada no Midjourney

É meio impossível não considerar uma vez mais que as coisas simplesmente não fazem sentido, e nem é com um tom de adolescente revoltado por não ver segurança em um deus que não o protege, mas sim de um soldado desistente, já inoperante que uma vez mais lamenta em uma feição pesarosa e amarga a constatação de total inoperância de qualquer lógica nessa mecânica ridícula da realidade. Uma bela jovem "com a vida pela frente" como diriam os mais velhos, que deu todos os seus últimos anos num trabalho completamente altruísta de salvar a vida das pessoas, junto com todos os outros envolvidos, massacrados entre ferragens, sem propósito algum. É sempre um exercício de ateísmo, e ao mesmo tempo é sempre um desconforto observar como as pessoas que não tem outros fundamentos a se apegar, acabam por achar sentido nessas situações, como ao dizer que não entendemos os propósitos de deus (é óbvio que não, não é possível entender o propósito de uma fantasia, de uma mitologia, há não ser o sentido que o próprio criador humano dá a essa criação, paradoxalmente), ou mesmo dizer que agora ela está em um lugar melhor e mais tranquilo e já fez tudo que precisava fazer por aqui... É de causar indignação, ao menos para mim.

No final das contas minha filha está bem, e hedonisticamente falando é isso que me importa mais, mas o meu dia foi arruinado pela empatia e compaixão, pela observação da dor alheia e pela constatação da inexistência de lógica uma vez mais. Para um neurodivergente como eu, é muito difícil sair do buraco negro quando se cai. Junto a uma luta gastosa de desmame de um mês de cannabis (outro drama para outro texto que farei em breve), meu dia foi perturbado e desconfortável, foram necessárias horas e mais horas para as coisas se ajeitarem no lugar. Cheguei em casa dessa jornada com um estress absurdo e uma sensação de esgotamento mental que beirava a incapacidade de conversar com a própria esposa, precisei inclusive de 5mg de diazepam para amenizar esse inferno. Isso tudo me fez pensar bastante não só nessas coisas que compartilhei aqui mas na minha própria dificuldade de manobrar a existência perante situações adversas e desconfortáveis, ou melhor situações realmente desafiadoras. Enfim, não é nada demais, mas eu só queria compartilhar um pouco dos sentimentos que permearam meu dia de hoje.

Thômas Blum

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