In an unpretentious bar conversation earlier, a friend asked me if I'd heard that children are speaking words in halves these days. That sentence might sound strange and meaningless if I didn't happen to have a nine-year-old daughter. I've often caught her talking to a friend in a very peculiar way (I'd love to find an example video here but I couldn't) and it's not uncommon for her to talk to me using these bizarre abbreviations, such as: "-Dad, tomorrow you're taking me to school", maybe this content will sound strange to non-Brazilians, but I've tried to at least partly adapt the content to make sense to you too! And cut-up speech is just a slice of this iceberg of language in the days of the alpha generation, I'll try to brush up on some of the topics I've discovered but I know it probably goes much deeper than that!
Perhaps it all started with "internetese", a term used in Brazil to name something that probably has its equivalent in the term "Textese", which basically started at the beginning of the internet. Again, sorry to people who speak another language, but the text ends up tending towards personal experience, which in this case is mine, as a Brazilian. As a millennial, I saw the internet blossom before my eyes and along with it, very basic abbreviations that already caused a certain strangeness at the time, such as "vc" for you (in English "u" instead of you) but all of this today is nothing compared to the bizarre complexity of abbreviations and makes all of you from previous generations (mainly Y downwards) look old.
For example, in Brazil:
-pprt (straight talk)
-Sv (soft)
-plmns (at least)
-smdd (without malice)
-nn (no)
And in the United States and other regions:
-iykyk (If you know, you know)
-Bffr (Be fucking for real)
-IJBOL (I just burst out laughing)
-oomf (One of my Followers)
As an avid Reddit user, I see a lot of people talking (in English) with this language and it has always seemed to me that it is a kind of wall that separates people who can talk with less distress and desperation (as if their time was going to run out in seconds) and people who write long and complete sentences, read long and complete books and so on. At the end of the day, it's an inevitable reflection on our time, on the way communication happens and is absorbed (although much of this comes from years of virtual construction and isn't necessarily "new"). But this language in particular in Brazil has been spreading and gaining ground mainly in some WhatsApp groups and I imagine strongly in discord channels (a den that I'm blessed not to have been able to interest myself in until now, but perhaps only because I haven't found my niche yet or because it seems to be very confusing and chaotic).
As I mentioned above, the abbreviated dialog, in my opinion, reflects a longing and anguish for the "lost time" in the construction of sentences and the emergency urgency of what is being said. And you see, the person speaking to you here is a chronic anxiety sufferer, who is agonized by people who speak slowly, sluggishly, but still have the patience to write correctly. I believe that this depends a lot on each person's personal background, on how they learn to talk and communicate, but unlike the predilections of the past, the current generation seems to be completely like this, with practically no exceptions. And I say this based on my nine-year-old daughter, but I can tell you that some twenty-one-year-old friends use "nn" instead of "no" without fear, and this bothers me a lot. Okay, it's a trivial complaint, I'm just an old man frozen in time while language evolves, we can trivialize, just like we do with everything and so much, but fuck it, my rights of expression and indignation at the misrepresentation of language remain valid and here we are on a "free network".
These symptoms of urgency spread beyond language, today we see not only young people, but also older people listening to audios on their smartphones at 2x speed, or watching entire videos, or even worse, editing videos in an accelerated way (albeit smoothly) to make the content more dynamic and fit into the space offered by the media (when we are talking about networks like tiktok and content production), we end up, whether we like it or not, falling into the fateful theme of late capitalism and its massive power to dominate society's means of language. By imposing a time limit on the web, social networks force users to produce content that fits into that time frame at any cost (if they don't use the damned "part 2") and with that comes the unreasonable use of fast editing, quick subtitles to aid comprehension and also the infamous "dry cuts", which are ultimately the reason I came here to write this content.
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Many YouTubers (at least in Brazil) use this technique called "dry cutting", which has become a trend... It boils down to cutting out the last few syllables of the sentence as a kind of editing stylization, while supposedly making the video more "dynamic" (NO, it just makes it more annoying). Boring internet fads come and go, the problem is not there, but in the fact that somehow part of the children (usually between the ages of 6 and 12) have been consuming this content exactly at a stage of cognitive construction that is very commonly associated with repetition, that is, they repeat what they perceive and learn, so the "dry cut" has become a way of speaking for many of these children, to the point of becoming a topic to be discussed among parents and educators. It seems that this phenomenon doesn't apply to other countries (at least in the United States, etc.) and perhaps because of the formation of words and their diction, it doesn't happen there, but if I'm wrong, please comment, I'd love to know! Perhaps there the problems go in other directions and are more linked to the "slang" of the alpha generation, which is pretty annoying anyway. Maybe in the end, none of this really matters, but it's not as if I'm seriously concerned, I've just delved into the topic as a brief anthropological/social study. My conclusions? I don't know, I just feel that all this reflects too much late capitalism and the power of anxiety in our temporal reality. Anyway, thanks for reading!
Português
Em uma conversa despretensiosa de bar mais cedo um amigo me perguntou se eu já tinha ouvido falar que as crianças estão falando as palavras pela metade hoje em dia. Essa sentença poderia soar estranha e sem sentido se por acaso eu não tivesse uma filha de nove anos. Muitas vezes eu peguei ela conversando com uma amiga de uma forma muito peculiar (eu adoraria encontrar um vídeo aqui de exemplo mas não achei) e não raro ela falar comigo utilizando essas abreviações bizonhas, como por exemplo: "-Pai, amanhã você me leva pra esco", talvez esse conteúdo soará estranho para os não-brasileiros, mas tentei ao menos adaptar em parte o conteúdo para fazer sentido para vocês também! E a fala cortada é apenas uma fatia desse iceber da linguagem nos tempos da geração alpha, vou tentar dar uma pincelada em alguns dos tópicos que consegui descobrir mas sei que isso provavelmente vai muito mais fundo!
Talvez tudo tenha começado com o tal do "internetês", termo usado no Brasil para nomear algo que provavelmente tem seu equivalente no termo "Textese" que basicamente iniciou junto ao começo da internet. Novamente aqui, desculpem pessoas que falam outra lingua, mas o texto acaba tendendo para a experiência pessoal, que no caso é minha, de um brasileiro. Eu como millennial vi a internet desabrochar diante de meus olhos e junto a ela, abreviações bem básicas e que já causavam certo estranhamento na época, como "vc" para você (na lingua inglesa "u" ao invés de you) mas isso tudo hoje em dia não é nada comparado a complexidade bizarra das abreviações e faz vocês todos das gerações anteriores (principalmente Y para baixo) parecerem idosos.
Por exemplo no Brasil:
-pprt (papo reto)
-Sv (suave)
-plmns (pelo menos)
-smdd (sem maldade)
-nn (não)
E no Estados Unidos e outras regiões:
-iykyk (If you know, you know)
-Bffr (Be fucking for real)
-IJBOL (I just burst out laughing)
-oomf (One of my Followers)
Como ávido frequentador do Reddit eu vejo muita gente falando (em inglês) com essa linguagem e sempre me pareceu que é uma espécie de muro que separa as pessoas que conseguem conversar com menos aflição e desespero (como se seu tempo fosse acabar em segundos) e as pessoas que escrevem frases longas e completas, leem livros longos e completos e assim por diante. É no final das contas um reflexo inevitável sobre o nosso tempo, sobre o modo como a comunicação acontece e é absorvida (ainda que muito disso venha de anos de construção virtual e não seja uma "novidade" necessariamente). Mas essa linguagem em especial no Brasil tem se espalhado e ganhado espaço principalmente em alguns grupos de whatsapp e imagino que fortemente em canais do discord (um antro que sou abençoado por não ter conseguido me interessar até hoje, mas talvez só porque ainda não achei o meu nicho ou porque parece que é muito confuso e caótico).
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Como mencionei acima, o diálogo abreviado ao meu ver reflete uma ânsia e aflição pelo "tempo perdido" na construção de sentenças e na urgência emergencial do que se diz. E vejam bem, quem vos fala aqui é um ansioso crônico, que tem agonia de pessoas que falam lentamente, arrastadas, mas que ainda assim tem paciência para escrever corretamente. Acredito que isso vai muito da formação pessoal de cada um, da construção de seu aprendizado a dialogar e se comunicar, mas diferente de predileções do passado, a geração atual parece ser completamente assim, praticamente sem exceções. E falo isso baseando-me em minha filha de nove anos mas posso afirmar que alguns amigos de vinte e um anos usam sem medo o "nn" ao invés de "não" e isso me incomoda demais. Ok, é uma reclamação banal, sou apenas um velho congelado no tempo enquanto a linguagem evolui, podemos banalizar, tal como fazemos com tudo e com tanto, mas, foda-se, meus direitos de expressão e indignação da deturpação da linguagem continuam válidos e cá estamos em uma "rede livre".
Esses sintomas da urgência espalham-se além da linguagem, hoje vemos não apenas jovens, mas também pessoas mais velhas ouvindo audios em seus smartphones em velocidade 2x, ou assistindo videos inteiros, ou pior já editando os vídeos de forma acelerada (ainda que suavemente) para tornar mais dinâmico o conteúdo e caber no espaço oferecido pelas mídias (quando estamos falando de redes como o tiktok e a produção de conteúdo), acabamos querendo ou não caindo no fatídico tema do capitalismo tardio e sua massacrante potência em dominar o meio de linguagem da sociedade. Ao impor um tempo limite na rede, as redes sociais obrigam os usuários a produzirem conteúdos que caibam a qualquer custo nesse espaço de tempo (isso quando não utilizam-se das malditas "parte 2") e com isso vem o uso descabido de edição acelerada, legendas rápidas para auxiliar a compreensão e também os famigerados "cortes secos", que são no final das contas, o motivo pelo qual vim aqui escrever esse conteúdo.
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Muitos youtubers (ao menos no Brasil) utilizam dessa tal técnica chamada de "corte seco" que acabou por virar uma trend aliás... Que resume-se em cortar as últimas silabas da frase como uma espécie de estilização da edição ao mesmo tempo que torna o vídeo mais "dinâmico" supostamente (NÃO, só o torna mais irritante). Modinhas enfadonhas da internet vão e vem, o problema não está aí, mas sim no fato de que de alguma forma parte das crianças (normalmente numa faixa etária entre 6 a 12 anos) vem consumindo esses conteúdos exatamente numa fase de construção cognitiva que muito comumente está associada a repetição, ou seja, ela repete o que percebe e aprende, logo, o "corte seco" tornou-se um modo de falar de muitas dessas crianças, a ponto de tornar-se um tema a ser discutido entre pais e educadores. Ao que tudo indica esse fenômeno não se aplica a outros países (ao menos à nível Estados Unidos, etc) e talvez pela formação das palavras e sua dicção, isso não ocorre por lá, mas caso eu esteja errado, comentem por favor, eu adoraria saber! Talvez lá os problemas vão para outros caminhos e estejam mais ligados ao "slang" da geração alpha, que é bastante irritante de qualquer forma. Talvez no final das contas, nada disso importe realmente, mas não é como se eu estivesse gravemente preocupado, apenas mergulhei no tema como um breve estudo antropológico/social. Minhas conclusões? Não sei, apenas sinto que tudo isso reflete demais o capitalismo tardio e o poder da ansiedade em nossa realidade temporal. De qualquer forma, obrigado pela leitura!