Chapter Two
Year 2 after the bombs he finally decided to leave the house, because there was nothing left that could keep him there. It was impossible to get food because there was no continuous internet or telephone signal, money was even a paradoxical item, many no longer cared about it, the business only worked with those who still considered that one day the system previously in force would return or else they used it to negotiate with their close ones who still used the concept. Before long it became necessary to get into the habit of going product hunting, just like in a classic apocalyptic movie, and he thought that after all things really turned out to be quite similar to the great movie clichés. Although he protected himself enough to go out on the street (now not only in terms of hygiene, but also in terms of self-defense), he was no longer so afraid of being contaminated, because after all 5 billion people died in the contamination, and the bombs (humanity's ultimate resource to contain the problem) killed another 980 million people. Literally what was left were the hidden refugees, the survivors and lean immune or agoraphobic like him who knows.
His mother had died in her sleep before the bombs, he knew something had happened because she stopped opening the house, and didn't respond to messages anymore. He preferred not to go check it out for himself and called the still active health system who who knows how he found time to come and collect the body, tried to contact him and he said on the other side of the door that he couldn't open because had agoraphobia disorder (it's a great excuse for not seeing people), the rescuer handed a copy of the death care document under the door that contained a few sentences filled in the blanks of the standard protocol sheet of the single health system in their city . Apparently Ofelia had died of cardiac arrest, which doesn't say much, but he deduced that it was a peaceful death given the state in which things had been happening in the world recently. It wasn't possible to cry too much over his mother's departure because he was in full upswing of the most recent attempt at mental balance, 150 milligrams of venlafaxine along with 2 milligrams of clonazepam in the morning (and 3mg of midazolam at bedtime), but they were necessary medicines not to freak out, not to kill themselves. He had made contact with himself a long time ago, promising that he would not open spaces for doubts about whether or not it was worth killing himself. And that he would just follow the journey, however tortuous it was, in search of a path to his existence. He had a somewhat robotic hope of seizing the opportunity and escaping to somewhere completely different, since he had barely traveled his entire life. Who knows how to take possession of a farm at the foot of the Serra do Mar and live harvesting bananas, taking care of the vegetation around them, breathing fresh air coming from the ocean, who knows how to take a car and disappear from Brazil towards Argentina, I didn't know, just they were ideas that he always kept in the back, but after the bombs it became a little less easy, because the world in general was dangerous, degraded and uncomfortable, there was not much joy in creating any plan, but still he would avoid it in the end in the experience, I wanted to see how far I could go.
When he stepped out of his house, the first thing he noticed were the dusty cars, reminiscent of a Middle Eastern scenario, flat tires (an essential detail in reality, stopped cars = flat tires, so it wasn't just going to get a car and go for a drive. there), he had noticed the open gates, the open houses, the silence. Just a few dogs scattered every so many blocks, cats, wind, practically no birds. The sky maintained an almost frightening bluish gray and whenever it rained there was a cloudy, stone-colored pigmentation in the drops that fell heavily from the sky. There was an anxiety of assault or theft in the air, at least that's how he imagined it, based mostly on the movies. But it seems that in real life the looting was immediately focused on assets and not necessarily on people, but even so, I was armed with a machete and a small tactical knife. He carried a backpack full of survival items and what little food he had left. He had made a plan to first go look for a working vehicle at some mechanic center (where he could fill up the tires) and then collect as much food as possible, he would need to stop by the pharmacy too, and finally he could continue his journey somewhere else.
Art from Paul Mathiopoulos - Panepistimiou street (1896)
Thômas Helon Blum
Português
Capítulo Dois
No ano 2 após as bombas finalmente ele decidiu sair de casa, por que já não havia nada, nada mais que pudesse o manter ali. Estava impossível conseguir comida por que não existia um sinal contínuo de internet ou de telefone, o dinheiro inclusive era um item paradoxal, muitos não se importavam mais com ele, o negócio só dava certo com aqueles que ainda consideravam que um dia o sistema anteriormente vigente iria retornar ou então usavam-no para negociar com seus próximos que ainda utilizavam do conceito. Em pouco tempo tornou-se necessário adquirir um hábito de ir caçar produtos, tal como num clássico filme apocalíptico, e ele pensava que afinal das contas as coisas realmente ficaram bastante semelhantes aos grandes clichês cinematográficos. Ainda que se protegesse bastante para sair na rua (agora não só em termos de higiene, mas também de autodefesa), ele não tinha mais tanto receio de ser contaminado, por que afinal de contas 5 bilhões de pessoas morreram na contaminação, e as bombas (o recurso final da humanidade para conter o problema) mataram mais 980 milhões de pessoas. Literalmente o que sobrou foram os refugiados ocultos, os sobreviventes e esguios imunes ou agorafóbicos como ele quem sabe.
Sua mãe morrera dormindo antes das bombas, ele sabia que havia acontecido algo por que ela parou de abrir a casa, e não respondeu mais as mensagens. Ele preferiu não ir checar por si mesmo e ligou para o sistema de saúde ainda ativo que sabe-se lá como arranjou um tempo para vir recolher o corpo, tentou contata-lo e ele falou do outro lado da porta que não poderia abrir por que tinha transtorno de agorafobia (é uma desculpa ótima para não atender pessoas), o socorrista entregou um documento cópia do atendimento de óbito por debaixo da porta que continha poucas sentenças preenchidas nos espaços em branco da folha protocolar padrão do sistema de saúde única de sua cidade. Aparentemente Ofélia havia morrido de parada cardiorrespiratória, o que não diz muita coisa, mas ele deduziu se tratar de uma morte pacífica dado o estado em que as coisas vinham acontecendo no mundo recentemente. Não foi possível chorar muito com a partida de sua mãe por que ele estava em plena ascensão de dosagem da mais recente tentativa de equilíbrio mental, 150 miligramas de venlafaxina juntamente com 2 miligramas de clonazepam pela manhã (e 3mg de midazolan ao deitar), mas eram medicamentos necessários para não surtar, não se matar. Ele fizera um contato consigo mesmo há um bom tempo, prometendo que não iria abrir espaços para dúvidas sobre se valeria a pena ou não se matar. E que apenas seguiria a jornada por mais tortuosa que fosse em busca de um caminho para sua existência. Tinha uma esperança meio robótica de aproveitar a oportunidade e fugir para algum lugar completamente diferente, já que praticamente não viajara a vida inteira. Quem sabe apossar-se de uma chácara num pé da serra do mar e viver colhendo bananas, cuidando da vegetação ao seu redor, respirando ar puro vindo do oceano, quem sabe pegar um carro e sumir do Brasil rumo a Argentina, não sabia, só eram ideias que sempre ia deixando guardadas, mas depois das bombas isso se tornou um pouco menos fácil, por que o mundo de forma geral estava perigoso, degradado e desconfortável, não havia muita alegria em criar plano algum, mas ainda assim ele evitaria por fim na experiência, queria ver até onde poderia ir.
Quando pisou pra fora de sua casa a primeira coisa que notou foram os carros empoeirados, lembrando um cenário de oriente médio, pneus murchos (detalhe imprescindível na realidade, carros parados = pneus murchos, logo não era só ir pegando um carro qualquer e sair por aí), notara os portões abertos, as casas abertas, o silêncio. Apenas alguns cachorros espalhados há cada tantas quadras, gatos, vento, praticamente nenhum pássaro. O céu mantinha um tom de cinza azulado quase assustador e sempre que chovia existia uma pigmentação turva cor de pedra nas gotas que caiam pesadas do céu. Existia uma ansiedade de agressão ou roubo presente no ar, ao menos era assim que ele imaginava as coisas, baseado principalmente nos filmes. Mas parece que na vida real o saque era focado imediatamente aos patrimônios e não as pessoas necessariamente, mas ainda assim estava munido de um facão e uma pequena faca tática. Levava uma mochila repleta de itens de sobrevivência e o pouco que lhe restava de comida. Traçara um plano de ir primeiramente procurar um veículo funcional em algum centro de mecânica (onde poderia encher os pneus) e em seguida, coletar o máximo de comida possível, precisaria passar na farmácia também e por fim poderia seguir sua viagem para algum outro lugar.
Arte de Paul Mathiopoulos - Panepistimiou street (1896)