Listening to the gusty gusts of the threatening wind that kick up harsh dust and knock clothes off the clothesline, interspersed with the soprano timbres that plague my sound, I struggle for balance.
Carefully polishing words so as not to denote auspicious astonishment, swallowing the long memories to understand the little things. I hear the rumblings of the storm, echoes of familiar corners, those warm Sunday family laughs when my godfather came to visit me, or I visited him.
The last time I visited him was in a hospital and I remember seeing him cry, having to present himself to me there, buried alive in a hospital bed, from undeserved bitterness and suffering.
I remember innocently recommending Echinacea Purpurea to help improve his immunity. It was a sad trip, and I don't remember the journey there or back, but I do remember going there alone to visit him in hospital.
The dark clouds pass like huge whales in the sky, slowly colliding and forming a titanic mass that pours steamy tears over us.
The light flickers, streetlamps must have been ripped out of the ground in some rural area, some wooden shack must be without light, with a blind old lady sitting next to the wood-burning stove (even in the incandescent summer) chewing thoughts between lips creased with history and sweat looking out of the window with a rosary in her hand.
I remember seeing people make a cross of salt on a plate or even on the floor of the house on stormy days, and I remember my mother cradling me in her lap and saying: -Santa Barbara protect us.
I never knew who Santa Barbara was, but I always remember her when it storms. My mood, calibrated by state-regulated narcotics, has contributed greatly to my being able to be here and there without crawling like a snake in the mud, and once again I am grateful to medicine.
Bless it.
Português
Ouvindo lufadas rusguentas de vento ameaçador que levantam poeira áspera e derrubam as roupas do varal, intercalado com os timbres sopranos que assolam meu som, eu padeço de equilíbrio.
Lapidar palavras com esmero para não denotar auspicioso assombro, deglutir as memórias longas para compreender as pequenas coisas.
Ouço rumores de temporal, ecos de recônditos familiares, aquelas risadas calorosas de Domingo em família, quando meu padrinho vinha me visitar, ou eu o visitava.
A última vez que o visitei foi num hospital e eu lembro de vê-lo chorar, por ter de se apresentar pra mim ali, enterrado em vida numa cama de hospital, por amarguras e sofrimentos não merecidos. Lembro de eu inocentemente lhe indicar Equinácea Púrpurea, para ajudar a melhorar sua imunidade. Foi uma viagem triste, onde não lembro da ida nem da volta, mas lembro de ter ido sozinho até lá, visitado ele no hospital. Eu lembro.
As nuvens escuras passam como imensas baleias no céu, chocando-se lentamente e formando uma massa titânica que derrama lágrimas vaporosas sobre nós.
A luz oscila, postes devem ter sido arrancados do chão em alguma área rural, algum casebre de madeira deve estar sem luz, com uma velhinha cega sentada ao lado do fogão à lenha (mesmo no verão incandescente) mastigando pensamentos entre os lábios vincados de história e suor olhando pela janela e com um terço na mão.
Lembro de ver as pessoas fazerem uma cruz de sal num prato ou mesmo no chão da casa em dias de temporal, lembro de minha mãe me acudindo no seu colo e dizendo: -Santa Bárbara que nos proteja. Eu nunca soube quem era Santa Bárbara, mas sempre lembro dela quando dá um temporal.
O meu humor calibrado por substâncias estupefacientes reguladas pelo Estado tem contribuído e muito para eu poder estar aqui e ali sem arrastar-me como uma cobra no lodo, uma vez mais eu sou grato a medicina. Abençoada seja.